quinta-feira, 30 de outubro de 2014

LANÇAMENTO DA DUPLA: ÒXENTE & TCHÊ.

Fronteiras diferentes

Tchê

Boa noite minha gente
Venho aqui desafiar
Quem de vocês se atreve
A vir comigo trovar
Desde já vou avisando
Quem vier vai apanhar!

Óxente

E eu respondo ligeiro
Essa pergunta a você
Que topo desafiar
Para todo mundo ver
Dessa dupla que formamos
Óxente é melhor que Tchê!

Tchê

Eu venho do Rio Grande
Não tenho papas na língua
Quando faço desafio
Eu mato o outro à míngua
Vir falando mal de mim
Incomoda mais que íngua!

Óxente

Pois eu vim da Paraíba
Um estado do Nordeste
Fui criada no sertão
Nas veredas do Agreste
Não tenho medo de íngua
Nem de fome, nem de peste!

Tchê

Paraíba masculina
“Mulher macho”, sim senhor!
Teu jardim só tinha cactos
No meu, milhares de flor
Tu só andavas de jegue
Eu já nasci num trator!

Óxente

Só que de cima do jegue
Eu percorro o Brasil
O cacto que me alimenta
Tem utilidades mil
Tua flor só tem beleza
Valor algum ninguém viu!

Tchê

Não adianta cara feia
Falo sério e não mango
Tu danças “xote” e baião
Eu danço valsa e tango
Nasci comendo churrasco
E tu um magro calango!

Óxente

Na dança eu não me canso
Vou até raiar o dia
Com os passos do forró
Que o mundo contagia
Quem come tanta gordura
Não sente dessa alegria!

Tchê

Tu tens a cabeça chata
Como boa cabra da peste
Fugindo da triste seca
Chegou ao Centro- Oeste
Pois lá morria de fome
Não tem bóia no Nordeste!

Óxente

São as cabeças chatas
Que tem mais inteligência
E mostra para o Brasil
Com bastante paciência
Sua gente não tem cultura
Religião, nem ciência!

Tchê

Não invente “converseira”
Tenha vergonha na cara
Se me ofender desse jeito
Dou-te uma surra de vara
Enquanto eu vim de avião
Tu “veio” de pau de arara!

Óxente

Com esse povo molenga
Que anda de avião
Eu nem penso em entrar
Com ele em discussão
Porque para mim não passa
De um bando de cagão!

Tchê

Tu “veio” para este mundo
Só pra chorar a desdita
Tua mãe sai mendigando
Um bom leite de cabrita
Nasci com roupa de seda
E tu vestido de chita!

Óxente

Com meu vestido de chita
Eu virei mulher rendeira
Faço o belo que não tem
A tua seda estrangeira
Somos de Terras distantes
De diferentes fronteiras!

Tchê

É verdade, tu disseste
Somos mesmo de outro chão
Vim para cá porque quis
Lá nunca me faltou pão
Tu vieste de pau de arara
Enquanto eu de avião!

Óxente

Hoje já falaste isso
Mas faço questão de lembrar
Quem anda de pau de arara
Tem força pra trabalhar
Não é como esses “froxos”
Vivem em roda a fofocar!

Tchê

Não fale de minha gente
E nem de minha cultura
Eu fui criada no campo
A vida também foi dura
A sobremesa era compota
E a tua só rapadura!

Óxente

Falo mal de tua cultura
Porque tu falas da minha
Adquiri forças nas pernas
Da rapadura e a farinha
Tua sobremesa mole
“Te deixou” muito fraquinha!

Tchê

A diferença é bem grande
Pois tu só falas besteira
Fui sim criada no campo
Sou esperta e matreira
Mas teu pai morreu bebendo
E tua mãe de caganeira!

Óxente

Teu pai se embriaga em vinho
E o meu bebe cachaça
A bebida brasileira
Mais conhecida da praça
Onde tu foste criada
A cerveja que é desgraça!
  
Tchê

Neste último verso eu digo
Comigo não há quem pode
Fui criada na fartura
Tomava leite com “tody”
Comi do bom e melhor
E tu buchada de bode!

Óxente

Tu estás mesmo é com medo
Por isso já quer parar
Eu tive leite de cabra
Para me alimentar
Não sou fraca como tu
Que vive de capengar!


Tchê

Se for para ofender
Eu avanço como touro
Ando por todo o Brasil
Galopando no meu mouro
Teu pai não tinha nem dente
 E o meu dente de ouro!

Óxente

Hoje nosso objetivo
Fazendo essa brincadeira
É mostrar que na cultura
O Brasil não tem fronteira
A dupla Óxente & Tchê
É a prova verdadeira!

Óxente & Tchê
Se alguém sentiu-se ofendido
Queremos pedir perdão
Aqui não tem preconceito
Isto é simples diversão
Nós somos irmãs de crença
De alma e de coração!

Literatura de cordel: Desafio.
Autoras:
Aurineide Alencar (Óxente)
Odila Schwingel Lange (Tchê)

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